Com ironia, sem ironia
Não estou entendendo... Esse caos instalado no país e o Congresso Nacional não está reunido extraordinariamente para “salvar o país, porque o Brasil está desgovernado, sem rumo”, como diziam com Dilma, a presidenta eleita democraticamente? O Congresso não está fazendo estardalhaço com isso tudo?
Mas não estou surpresa, estou irônica, porque só a ironia nos salva no Brasil pós-Golpe parlamentar-midiático-jurídico de 2016 - e que ainda está em curso. Inclusive, nos salva pra aguentar o discurso dos viventes nossos de cada dia, que apoiaram o Golpe com indumentária “nacionalista”. Sim, ainda estão se agarrando na narrativa de que tudo isso “é resquício do desgoverno do PT”. Mas noto que baixam os olhos quando falam tal asneira, esfregando as mãos, tensos, por seu próprio constrangimento. Estes foram os “bobos da corte”, os instrumentalizados, não os promotores do Golpe.
Ah, os personagens principais estão encastelados tomando Whisky e tramando os próximos passos. Devem estar também repassando as pautas: “Reforma Trabalhista: ok. Lula preso: ok. Privatizações in progress: ok...”.
Nós outros estamos sentindo na pele a perda progressiva de direitos, em todas as áreas. Sem ironia, precisamos que os instrumentalizados acordem. Ainda é tempo. Precisamos de maioria. Precisamos estar atentos, defender eleições livres, evitar um “golpe dentro do golpe”, como alguns especialistas já alertam, fiscalizar o judiciário para que não assuma (ainda mais) o campo da política e do parlamento, democratizar a mídia (luta grande) e denunciar seus interesses escusos, apoiar as lutas dos movimentos sociais... a lista é grande...
Estamos no fim de maio e as eleições deste ano (possivelmente o pleito mais importante do Brasil nos últimos tempos) ainda estão em segundo plano nas discussões e reflexões da maioria da população. Até porque demonizaram a política junto com os políticos.
Precisamos da política para reestabelecer a democracia no país. Ressignificar a política para além do parlamento. É possível. É necessário. Ainda é tempo, repito, sem ironia.
*Publiquei esse texto também no meu facebook.
**A imagem acima foi capturada da internet, sendo uma reprodução da tela "O Grito", que é parte de uma série de quatro pinturas do norueguês Edvard Munch, em 1893. A obra simboliza o desespero, por meio das simbologias, expressões e composições tendo como personagem uma figura andrógina. As pinturas de Munch marcam também o movimento expressionista.
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