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Tudo começou com uma pergunta


Dia desses, estava sentindo falta de conversar com os porteiros do prédio sobre política.

Queria ouvir a opinião deles sobre a situação do país, essa treta maligna toda e tal.

São essas pessoas da vida real que me abastecem, que são meus termômetros sobre os discursos que circulam por aí. Esses, sim, os verdadeiros sábios e que sentem com maior crueza no rosto e no bolso o pulsar das decisões políticas.

Daí, ia pegar uma carona e resolvi descer pra portaria antes da hora marcada.

Entabulei um assunto com o porteiro: “Tem muito assalto nessa parada de ônibus aí na frente?”

Porteiro: “Tem direto! Mas os bandidos são presos e soltos depois de quatro semanas. Aí voltam para assaltar. Tem jeito não.”

Eu: “Temer está solto e é presidente, imagine...”. Eu só queria um fresta.

Ele: “Aécio também.”

Eu: “Pois é, com provas e tudo. Primo de Aécio preso, irmã presa, imagens e áudio comprovando, mas...”.

Ele: “E Temer que botou ministro pra voltar a ser deputado, pra votar nas reformas, depois botou tudo no lugar, cheio de manobras. Tá fazendo o que ele quer.”

Nessa hora um outro trabalhador se aproximou e ficou assentindo com a cabeça o que o porteiro dizia.

Eu: “E a reforma trabalhista acabando com o povo, com os trabalhadores.”

Ele: “O Brasil só cresceu com Lula. O Brasil ficou famoso no mundo todo com Lula, ficou respeitado, agora...”

Nisso, a zeladora que estava comendo Pippo’s sentada num banco próximo chegou na conversa e disse: “Tá uma vergonha, a gente nunca viu essa situação, cada vez pior.”

Eu: “E Lula preso sem provas, por um documento sem assinatura, sem áudios e imagens que comprovem as denúncias.”

Ele: “É pra ele não ganhar a eleição do ano que vem.”

Falamos sobre os paneleiros, mobilizações, greves, sem muita teoria, mas com muitas verdades.

Minha carona chegou e buzinou, pena... Despedi-me deles e saí para pegar a carona.

O porteiro continuou no debate, já em tom empolgado, discursando sobre política para a trabalhadora e o trabalhador que estavam com ele.

E eu saí lembrando do mestre Paulo Freire e a sua obra “Por uma Pedagogia da Pergunta”, que ensina como a pergunta pode despertar o conhecimento, a curiosidade, a criatividade, o diálogo, a crítica.

“O conhecer surge como resposta a uma pergunta”, disse Freire. E eu aprendi muito nesse dia, na portaria do prédio onde moro.

*Foto do educador Paulo Freire, capturada da internet, sem crédito do fotógrafo, infelizmente.

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