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Equilibrista


Uma vez eu estava com sintomas de estresse. Aproveitei para procurar um médico e “dar uma geral na máquina”. Dia da consulta. Comecei dizendo que queria fazer um check-up, já que estava me sentindo meio cansada. Ele perguntou: "Como está a sua vida?" Eu, tranquilamente, respondi: “Está tudo bem, fazendo muita coisa, mas sempre foi assim”. Ele, com um tom de curiosidade na voz, perguntou: “Qual a sua rotina?”

Contei que trabalhava nisso e naquilo outro, uns voluntariados no meio do caminho, uma especialização à noite e um mestrado para começar já-já e tal e coisa, umas responsabilidades sobre os ombros aqui outra ali... “É mais ou menos isso”, finalizei. O médico olhou para mim, rindo, e disse: “Você falando e eu vendo você como aqueles equilibristas de pratos”. Ri bastante. Então ele disse: “Só pode estar cansada, tente eliminar algumas responsabilidades, trabalhos...”

Requisições de exames nas mãos, saí do consultório e fui ruminar o que ele havia dito. Será que é tanta coisa assim para equilibrar? Ai, ai, ele não me conhece, oras!, para saber que estou acostumada com essa rotina... Mas a pessoa adora ficar mastigando as palavras ditas e ouvidas, que vão reverberando, reverberando... Na verdade, alguma luz acendeu para que eu pudesse considerar tanto a opinião do médico. Segui em frente com os meus pratos girando...

Ah, vou fazer yoga! Isso! Bem pensado! Na primeira sessão, a professora olhou para mim e perguntou: “O que tanto você carrega nos ombros?”. Ãããã? Pronto, agora danou-se. É um complô. Mas haja ruminação, e entendi que as minhas obrigações de vida estavam mesmo pesadas. Não era mais tão prazeroso e leve manter os pratos equilibrados nas varinhas. Será que era pouca mão para tantos pratos? Vai, Patrícia, reflete mais... Queima as pestanas...

Um pouquinho mais adiante entendi que o problema não era a quantidade de pratos; mas, na verdade, o que valeria a pena ou não equilibrar na vida... Tratava-se de avaliar escolhas. O que era realmente escolha, o que era percebido como obra do destino e o que era permissão inconsciente. Pensar sobre isso foi, sim, um novo passo, fundamental na minha vida.

Desde então, a minha busca é encarar a existência na terra com suas inúmeras possibilidades de mudanças. Não mudanças como “trocas” de pessoas e lugares. Ah, isso seria muito simplista... E vazio. É, sobretudo, fazer ressignificações... De relacionamentos, amizades, trabalhos, parcerias, projetos, lugares... Às vezes, nós, humanos, somos tomados por uma vontade de “deixar tudo como está”, que é mais cômodo e mais fácil. Mudar geralmente exige suor. Lágrimas. “Mudar dói”, já ouvi isso. É nadar contra a correnteza. Até o ditado popular diz: “Para que mexer no que está quieto”? Oxente! Porque muitas vezes é necessário, ora bolas.

Hoje, mais do que ser “equilibrista de pratos” prefiro ser uma equilibrista da/na vida. Equilibrar pratos é muito restritivo! Uma coisa meio mecânica... E ainda você fica olhando para cima, sei lá. Sempre achei sem graça quando via nos circos. Preferia a emoção da corda bamba, embora sempre olhando se havia tela de proteção, mas sempre com fé que não iria acontecer nada... Sem contar que na corda bamba você se concentra nos seus passos, sentindo por onde vai caminhar. Taí! Mudanças de passos com certa segurança. Eis o segredo da vida... Equilíbrio é tudo!

*Foto capturada do endereço http://boasnoticias.pt/mobile/noticias.php?id=9730, que não trazia crédito do fotógrafo.

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