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Sem mala... em Paris


Uma combinação nitroglicerinada: a minha primeira viagem a Paris + apaixonada + sem mala. Era 9 de setembro de 2008. Naquela viagem inaugurei também a escrita do diário de bordo. Viralizou. Não sei mais viajar sem registrar os roteiros, sentimentos e percepções sobre os lugares. Intitulei o bloquinho de bordo de “Minha viagem dos sonhos”. E era. E foi. Em todos os sentidos. De cara, o meu novo namorado – hoje marido - escreveu um acróstico, dando o tom da pauta:

Patrícia

Adolfo

Românticos

Inteiros

Sonhando (e vivendo)

Tudo bem que depois vimos que o “S” do acróstico poderia ser de “Sem mala”. Os detalhes da viagem foram bem planejados, mas, claro, deixamos espaço para caminhadas sem rumo nas ruas de Paris. Ah, “Sem rumo” poderia também ser parte do acróstico... Pensava em como seria chique passear com os cabelos esvoaçantes pelas avenidas largas da capital francesa. Paris... Ainda no aeroporto, a minha mala foi apelidada de contêiner. Verde, enorme e cheia de fitinhas amarradas na alça para ser identificada facilmente. Nada de riscos. Blusas, calças, saias, vestidos, leggings, meias, sapatos, botas, cachecóis, toquinhas, luvas... Muitas roupas de frio e até algumas para um possível dia de calor. Tudo bem, reconheço, para uns quatro possíveis dias de calor. Nunca se sabe... Tudo estava lá. Inclusive, brincos, anéis e colares para combinar com cada produção.

O Aeroporto Charles de Gaulle ficou pequeno para tanta decepção quando a mala verdinha não apareceu na esteira. Guichê de reclamação, registro de extravio, ligação para o seguro, confusão com o idioma, piiiiiii, hora de ir para o hotel. Algumas baldeações (agradeci pela mala perdida) e chegamos ao destino. No caminho, já o encantamento. Sensação de estar em um grande museu aberto. De vez em quando, no horizonte, a vista da pontinha da Torre Eiffel, que parecia estar andando atrás da gente. Vontade danada de deixar as malas no hotel e sai correndo para ver tudo. Malas, no plural? Uma mala só... Eu estava “Sem nada”... Inexperiente, não levei sequer uma muda de roupa na mochila, nada na bolsa de mão. Quase vinte horas de viagem, somando tudo. E um banho mais que necessário? Uma roupinha limpa, arrojada, à altura de Paris... Nãããã... “Sem expectativa”.

Já era fim de tarde. Não, não poderia entrar em lojas, pesquisar preços e comprar roupas. Seria um desperdício de tempo. Afinal, estávamos em Paris! Investir na mala do novo namorado foi a solução. Que tal experimentar umas calças e bermudas dele? (Juro que parei e pensei, com preocupação: pode ser fatal para o glamour de um começo de relação... Vai ser um risco se ficar muito jegue...). Fui adiante, decidida. A única bermuda que entrou em mim foi a que considerava a pior, porque não era estilo pescador, capri, cargo, muito em voga na época. Não era nada... Era sem estilo. Adotei a bermuda. “Sem noção”... Ah, eu estava em Paris. O que importava? Como viajei com uma sobreposição de blusas, uma delas estava limpinha. Na esquina do hotel, a ida a uma lojinha para comprar roupas íntimas (Não, não, seria demais... você sabe...)

Hoje entendo que andar daquele jeito na capital mundial da moda foi um momento de desapego. O verbo desapegar liberta. Rir de si mesma também. Tanto que no outro dia pela manhã não quis novamente parar para comprar roupa e saí à luz do dia com a mesma bermuda. Jardim Tuileries, Arco do Triunfo, Champs-Élysées, Rio Sena... Lá estávamos... Maravilhados, apaixonados e malvestidos em Paris (meu novo namorado foi solidário e saiu de sandália rider, sim "aquela"...)! Daria um curta-metragem. Só no final da tarde do segundo dia comprei o primeiro vestido e uma meia de perna. Depois escolhi outras peças. No quarto dia a mala foi entregue no hotel.

Caminhamos muito, deslumbrados e rindo pelas ruas de Paris. Cheguei a tirar foto com "a" bermuda em frente à loja Dior. Para tirar onda. Morrendo de rir. Sinceramente, luxo é viver a vida com mais improviso. Brincar com o inesperado. E, claro, encantar-se com o amor e com Paris... E tudo está bem registradinho no diário de bordo.

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