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O mal por ele mesmo se destrói?

  • por Patrícia Paixão
  • 11 de jun. de 2015
  • 3 min de leitura

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Todo mundo em algum momento da vida se viu diante de um monte de espertinhos se dando bem. Parece que só você enxerga isso. Você sente como se a sua voz fosse um eco frágil e vazio numa caverna deserta e escura. Ninguém lhe dá ouvidos. Você até que tenta: “Olha, fulano não é tão gente fina como você pensa. Toma cuidado”. Não adianta. Parece até aqueles pesadelos quando a gente quanto mais corre mais fica perto do perigo. Mas o pior, muito pior, é quando você entende que há interesses em jogo. E as pessoas simplesmente não querem ou não devem ouvir o que você tem a dizer... Ainda bem que não é sempre que isso ocorre. E, vamos combinar, nem é sempre que você está tão antenado com um cenário a ponto de ver como os “atores” estão se comportando, como as peças do xadrez estão se mexendo, e que há má-fé no movimento em curso.

Outro dia estava conversando com o meu filho exatamente sobre algum espertinho que estava se dando bem, com sabe-se lá que armas escusas estava usando. Aí me saí com o clichê filosófico tirado de algum para-choque de caminhão: “Mas o mal por ele mesmo se destrói”. Sentenciei. Meu filho sem titubear disse: “Sarney está aí até hoje.” Ah, é? Fiquei sem palavras, mas me pus a refletir sobre isso. E engoli a frase que costumava repetir durante anos a fio, sem pensar muito no que ela significava.

Comecei a ver que na prática eu não acreditava totalmente nessa afirmativa. (Não quero aqui entrar no mérito das teorias espirituais, católicas, cristãs, na física quântica, nas leis da causa e efeito, no “aqui se faz, aqui se paga”, enfim. Minha observação é mais terra a terra. Mais rasante.).

Vejo também que nessa jaula urbana do salve-se quem puder há sempre os que mandam (são os que têm mais poder), que deixam o espertinho se dar bem, porque estão em sintonia de interesses. Nesse laissez-faire desenfreado, quem discorda só tem um caminho: lutar para mudar ou desistir, achando talvez (e retoricamente) que o mal vai se destruir um dia. Ficar perto e nada fazer quer dizer sofrer, reconhecendo e cantando: Hoje você é quem manda/Falou, tá falado/Não tem discussão, num “apesar de você” moderno. (Por isso muita gente se exilou na época da ditadura no Brasil, porque lutou muito e naquele momento não podia mudar o estado de coisas horríveis que aconteciam). Reconheço que às vezes precisamos esperar o momento certo para tentar “transformar o mundo” (mais clichê!), pelo menos em nossa volta. Mas calar é a opção mais sofrida para os conscientes. Quase impossível.

A lei dos espertinhos pode se efetivar em várias esferas de poder, não apenas em partidos políticos e poderes públicos. No espaço onde tem gente junta, tem luta pelo poder, em várias escalas. E sempre tem um ou outro que resvala para a sarjeta. Às vezes, acho interessante algumas pessoas falarem mal do estado geral de corrupção que assola o Brasil, colocando a questão para bem distante de si. E vejo essas pessoas, na micro-esfera onde atuam, repetindo muitas dessas práticas. Terrível.

Qual o caminho para não “esperar” que o mal se destrua por ele mesmo? Acho que lutar sempre é a melhor opção. Mas se for para pregar no deserto... Aguente a úlcera. O poeminha do contra, de Mário Quintana, nos dá um alento: Todos esses que aí estão/atravancando meu caminho/eles passarão... eu passarinho!

Lutar pelas vias legais, pela denúncia, pela atitude firme, pela construção coletiva, pela mobilização. Lutar sempre! Para Foucault, resistir é construir uma alternativa que não está dada. Acredito que, no fundo, o mal vai se destruir mesmo, nem sempre do jeito que queremos ou esperamos, nem sempre no tempo que imaginamos. Desistir, jamais!

 
 
 

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